Vou começar explicando sobre a rearmonização, que é um conceito pouco tratado. Ela sempre vem aparecendo como um dos últimos tópicos de estudo de teoria musical, apesar de seu estudo não ser muito complexo. É importante que você saiba no mínimo como são formadas as tríades e tétrades.
Basicamente, rearmonizar é alterar a estrutura harmônica de uma música, ou seja, é pegar uma música pronta e alterar sua harmonia, sem alterar as vozes da melodia, criando uma estrutura mais complexa e rica harmonicamente, adicionando seu gosto á música. Apenas lembrando que nem sempre o mais complexo é o mais bonito. A rearmonização é somente uma base pra criar idéias.
A rearmonização é guiada pela melodia, ou seja, não podemos deixar que as duas se choquem, a melodia é quem dirá quais notas podem ser alteradas.
Existem 5 formas possíveis de rearmonização:
- Incrementando notas aos acordes;
- Substituindo acordes de mesma função harmônica;
- Acrescentando modulações e acordes de empréstimo modal;
- Utilizando cadências e progressões;
- Substituindo o modo grego utilizado.
Vou explicar sobre cada conceito neste mesmo tópico, mas estude com calma e dedicação, pois é um tema muito interessante e poucos tem essa habilidade/técnica.
- Incrementando notas aos acordes:
É simplesmente acrescentar notas aos acordes. Suponhamos que uma música foi formada por esses acordes:
| D | A | Bm | G |
Podemos já começar inserindo as sétimas desses acordes, seguindo sua função harmônica dentro do campo harmônico, ficando assim:
| D7M | A7 | Bm7 | G7M |
Essa nova estrutura deu um novo modelo para a música, mas digamos que os companheiros de banda não gostassem desse A7, então poderíamos colocar um A9, que soa bem mais calmo e melódico:
| D7M | A9 | Bm7 | G7M |
Agora que o acorde A não possui mais a terça (C#), poderíamos acrescentar ele no baixo, criando um efeito cromático descendente entre o D e Bm:
| D7M | A9/C# | Bm7 | G7M |
Como retornamos para D7M depois do G7M e a quinta de D é o A, podemos acrescentar essa nota no acorde de G7M, criando um G7M(9):
| D7M | A9/C# | Bm7 | G7M(9) |
Essa ultima técnica é chamada de Nota Pedal. Ela tenta deixar essas passagens de notas mais calma e estática. Como o deslocamento de oitavas é sempre muito brusco, devemos tentar manter alguns acordes na mesma região do braço do instrumento. Claro, desde que esse seja seu objetivo.
Poderíamos acrescentar também sextas, quartas, inversões de acordes, etc. Basta considerar o tom em que estamos e fazermos as nossas modificações ao nosso gosto. Algumas extensões podem descaracterizar a função harmônica de algum acorde. Logo, devemos tomar cuidado para não chocar com a melodia. Segue uma tabela com as extensões que podemos utilizar:
Tensões Disponíveis (Imagem: Denis Warren)
- Substituindo acordes de mesma função harmônica:
É o ato de trocar um acorde por outro que tem a mesma função harmônica. Vou exemplificar isto em uma música muito simples: Parabéns pra você (Tom: G).
Vamos verificar cada função harmônica do tom desta música:
- Função tônica: G, Em, Bm;
- Função dominante: D7, F#m7(b5);
- Função subdominante: C, Am.
Esses acordes podem ser trocados uns pelos outros dentro do tom original (G), sem alterar a sensação harmônica do arranjo. Vamos começar trocando o acorde tônico: G, que está em cima da segunda frase por Em; e o da terceira frase por Bm. Substituímos também o acorde de função subdominante: C, na segunda frase colocamos Am; e deixamos o da terceira frase. Substituímos o acorde dominante: D, alteramos apenas o da primeira linha por F#m7(b5). Ficando assim:
Podemos fazer essas trocas com liberdade (apenas respeitando o que a melodia pede), dependendo do gosto de cada um. E também tem os acordes dos campos Menor Natural, Menor Harmônico e Menor Melódico:
Substituição de acordes (Imagem: Denis Warren)
- Acrescentando modulações e acordes de empréstimo modal:
Este método acompanha as mesmas regras que os outros: seguir a melodia. Vou utilizar a mesma música anterior, mas sem as alterações. Vamos começar fazendo isso: no primeiro acorde (G) pegaremos sua quinta, que é D (poderia também ser a terça, contanto que seja uma nota do acorde), e vamos pensar em um outro acorde que possua a nota D como uma nota de sua tríade: Bb7M. Então, a nossa música poderia começar com o acorde Bb7M.
O próximo acorde é D. Pegaremos sua quinta (A) e verificamos algum acorde que possua ele na sua fundamental novamente: F7. Perceba que esses dois acordes pertencem ao campo harmônico de Bb. Veja como ficou esse trecho agora:
No próximo trecho vem o acorde C, que deve ser mantido. Daí pra frente, deixamos a música seguir em seu tom original, mas o que fizemos nos dois primeiros acordes? Fizemos uma modulação para o tom homônimo (BbM7). Por isso, ficou bastante suave essas passagens! Nossa música ficou assim agora:
Agora vamos inserir AEM (Acordes de empréstimo modal). Na segunda frase pegamos o D (lembrando que poderia ser qualquer outra nota do acorde de D) e procuramos algum outro acorde que tenha a nota D em sua tríade: Bm7(b5). Então vamos substituir, finalizando assim:
Esse acorde Bm7(b5) vem do campo harmônico de C, ou seja, utilizamos o campo harmônico de G mixolídio. Com apenas pequenas modificações, conseguimos deixar a estrutura harmônica mais rica e complexa!
- Utilizando cadências e progressões:
Iremos utilizar a cadencia II – V – I, que explicarei em detalhes em outro tópico, pois é um assunto extenso. Basicamente esse “II – V – I” é o cria/prepara/conclui, com os graus de qualquer campo harmônico. Mas, retornando ao nosso foco, poderíamos inserir acordes com menor duração de tempo (acordes de passagem) na primeira linha, depois de BbM7, colocamos um Cm, deixamos o F7 e colocamos o BbM7 para finalizar a cadencia II – V – I:
E na última linha, substituindo o primeiro G, colocamos um Am7:
Por último depois do G da segunda linha, colocamos um Dm, para fazer II – V – I em C:
Ficando quase um jazz mais rápido, mas claro, lembrando aquela frase do começo: nem sempre o mais complexo é o mais bonito! Claro que ficou agradável aos ouvidos de algumas pessoas, mas para outras não, devemos ficar atentos a isso também.
- Substituindo o modo grego utilizado:
Substituir o modo grego é basicamente utilizar acordes de outros modos gregos no lugar dos originais. Alterando assim sua tonalidade. Podemos escolher qualquer modo grego, desde que não se choque com a melodia. Vamos retornar para a nossa música original:
Agora vamos mudar os modos gregos. No primeiro acorde podemos escolher qualquer acorde que tenha G em sua tríade: G7. Então, o tom agora é C. Logo, o acorde G7 foi criado em cima do modo mixolídio. Agora começamos assim:
Aquele D7 precisa ser alterado, pois ele pertence á outra tonalidade, vamos substituí-lo por: Cadd9 :
Na segunda frase, vamos trocar o acorde de C por outro que possua a nota C dentro do campo harmônico de C: Dm7. Vamos trocar o acorde D por G e retornamos para Cadd9 em vez de G:
Formamos um II – V – I. Continuando: trocamos os acordes da terceira linha por Cadd9, e F7M(9), respectivamente:
E pra finalizar, podemos copiar os mesmos acordes da segunda linha, fazendo mais um II – V – I:
Claro que não alteramos com muita complexidade. Além de ter vários outros acordes e possibilidades, nós poderíamos ter colocados diminutos, notas de passagem cromática etc. Contudo, essa aula foi apenas uma abordagem bastante simples sobre rearmonização.
Tente fazer o mesmo com músicas que você goste e experimente estes conceitos!
(Fonte: Cifraclub)